No Brasil, no início da década de 70, os carros esportivos mais comuns eram Karmann Guia (em duas versões, a tradicional lançada em 1962, e a TC, uma tentativa de dar novas linhas ao clássico), produzido pela VW, e o Puma, produzido por uma empresa independente, embora utilizasse componentes mecânicos VW a ar. As vendas do Karmann Guia não tinham o mesmo sucesso do Puma, que estava no auge e era um verdadeiro sonho de consumo. A VW decidiu participar do mercado esportivo com um novo carro, arrojado e moderno, que pudesse ser melhor que o Puma.
Este novo carro esportivo, resultado de gestão de Rudolf Leiding no comando da VW do Brasil, possuía várias vantagens sobre os concorrentes: era construído de chapa de aço e adaptação baseada em chassi de Fusca, Além de possuir um desenho moderno, bonito e arrojado.
Projeto X
O P2, o primeiro carro nacional totalmente projetado no Brasil, foi desenhado por Senor Schiemann, que desde 1969 já tinha idealizado o desenho básico do carro. A frente d SP2 foi inspirada no modelo europeu VW 412 (Type 4), assim como os brasileiros Variant e Brasília, também criados por Leiding. Mas, os trabalhos na prancheta começaram mesmo em novembro de 1970, projeto este que ficou conhecido como “Projeto X”, e era guardado a sete chaves pela VW. Leiding ficou impressionado com o desenho do novo carro e mandou construir um protótipo para a Feira da Industria Alemã, em São Paulo, em março de 1971. Após muita expectativa, finalmente foi exibido ao publico, dividindo a atenção da feira com o protótipo C111 da Mercedes Benz.
Como já era esperado, as reações do publico e da imprensa foram das mais positivas, sobretudo pelo estilo agradável do carro. Durante mais de uma ano, o esportivo da VW manteve o publico em suspense, recebendo pequenas modificações e acertos finais para chegar ao mercado.
Finalmente, em junho de 1972 foi lançado o novo carro, batizado de SP (iniciais de São Paulo, estado onde foi idealizado e produzido, outras fontes atribuem a sigla à Special Project ou Sport Prototype) nas versões SP1 (1.584 cc e 66 cv) e SP2 (1.678 cc e 75 cv). A maioria dos revendedores recebeu o primeiro carro apenas em julho, e o lançamento foi um sucesso. No exterior, o esportivo brasileiro também foi noticia. A revista alemã Hobby anunciou-o como o “Volkswagen mais bonito do mundo”. Outra publicação, a Car & Driver, norte-americana, avaliou o SP2 e conclamou a matriz a produzi-lo em escala mundial.
Os modelos de produção
O SP2 foi construído com cahssi e mecânica basicamente da VW Variant, com algumas diferenças, como freios dianteiros a disco e motor de 1.679 cc com dupla carburação (Solex 34 PDSIT). Os 75 cv a 5000 rpm levam o SP2 a 100 km/h em apenas 13 segundos, uma boa marca para 1972.
Um detalhe interessante ë a altura do carro, de apenas 1158 mm, mais baixo que o Karmann Ghia ou o Porche 914. Foi o carro nacional de série mais baixo já produzido.
Seu desenho é muito bonito, e se mantém atual até os dia de hoje. O SP2 possuía muitos detalhes incomuns para a época, como os frisos laterais em vermelho refletivo, limpadores de pára-brisa com hastes pantográficas e pára-choques de borracha. Painel muito completo com velocímetro, conta-giros, relógio, amperímetro, marcador de combustível e temperatura do óleo do motor. Acendedor de cigarros embutido, ventilação e luzes de leitura de mapa nas portas. Foi o primeiro modelo nacional a possuir alavanca de acionamento dos limpares de pára-brisa na coluna de direção.
Quase três mil unidades foram vendidas naquele segundo semestre de 1972. Nos anos seguintes, a demanda caiu, mas, manteve o mercado estável. O carro não recebeu modificações, exceto novas cores. Em 1975, o SP1 (que teve pouquíssimas unidades) já não estava mai disponível, permanecendo apenas o SP2, que inclusive já era o nome popular do modelo. Também já não havia mais a opção de estofamento dos bancos de couro.
A VW chegou a cogitar a substituição do motor por outro mais potente, do VW Passat (refrigerado a água), na dianteira, cujo protótipo foi chamado de SP3. Porem, o custo do investimento para a produção normal seria muito elevado, e retorno duvidoso. Infelizmente não passou de um protótipo.
Embora na fábrica o projeto não tenha passado de maquete, protótipos chegaram a ser construídos pela concessionária Volkswagen Dacon. Externamente, o carro tinha rodas pretas aro 13, tala 6, do Passat; as aletas de ventilação foram substituídas por discretas fendas próximas à janela traseira, e uma grade preta (também do Passat) tomava toda a extensão da seção sobre o pára-choque. O diferente do projeto original da fábrica, o motor permanecia na traseira, junto com o compressor do ar-condicionado. O radiador ficava na dianteira, junto da ventoinha, e a conexão com o motor se fazia pelo tubo central do chassis. Bancos Porsche (a Dacon representava esta marca antes da "proibição" das importações) compunham o interior, que recebia acabamento em preto. A transmissão, a suspensão e os freios (discos na frente e tambor atrás) eram os mesmos do SP2, porém recalibrados para a maior potência do carro. O protótipo chegava a 180 km/h de máxima. Infelizmente, apesar do entusiasmo inicial que o carro gerou, a firma decidiu que os custos necessários para se viabilizar a produção seriam altos demais, e o projeto foi abandonado. A concessionária chegou a oferecer o serviço de "conversão" dos SP2 normais para SP3, porém o preço proibitivo (cerca de 100.000,00 cruzeiros) esfriou as vendas. Atualmente o projeto sobrevive em réplicas construídas por entusiastas, seja utilizando SP2 genuínos modificados ou seja construíndo o automóvel inteiro em fibra de vidro.
O SP2 continuou em linha até fevereiro de 1976, com a marca de 10205 unidades produzidas, sendo que 670 unidades foram exportadas para a Europa. Decorrido hoje um quarto de século do lançamento, e 21 anos após ter saído de cena, qualquer um dos raros remanescentes do SP2, desde que originais e impecáveis, continuam chamando a atenção pó onde passam. Suas linhas não envelhecem. Ser proprietário de um SP2 em bom estado é com certeza um motivo de muita satisfação, sendo privilegio de poucos colecionadores e alguns museus.
Um projeto tão arrojado como o SP 2, mas destinado a um mercado tão restrito, certamente seria impensável hoje para uma grande montadora. Mas o SP2 nasceu em uma época áurea, em que a industria automobilística brasileira podia se dar ao luxo de sonhar.
Como ele seria hoje? Bem que VW poderia comprar esta idéia
A escolha do modelo não foi por acaso. “O SP-2 foi o primeiro carro totalmente desenvolvido no Brasil e exportado para vários outros países”, relembra Marcelo.
"Procurei criar um modelo atual sem perder a identidade visual do SP-2 original, o que é facilmente percebido ao observar o carro, com sua frente marcante e suas faixas refletivas nas laterais” – disse Marcelo.
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